Arquivo: Um pouco sobre o mestre Seiichi (Shikan) Akamine

Abaixo, reproduzo texto publicado originalmente  no site www.karate-do.com.br sobre uma figura muito importante do Karate brasileiro, o pioneiro mestre Shikan Akamine. O motivo da publicação é que a página original foi tirada do ar em algum momento  no começo de 2019. Considero o conteúdo relevante e era um dos primeiros resultados sobre Akamine que apareciam na pesquisa. Felizmente, a antiga página pode ser acessada com a ferramenta Wayback Machine, mas ainda é pertinente facilitar a consulta para todos.

Akamine é um dos mestres na linhagem do meu Karate, por ter sido o primeiro professor do meu saudoso Sensei Tsunioshi Tanaka. Isso faz com que eu tenha um interesse especial por sua  trajetória, técnicas e legado. Vale observar que outro professor importante na formação de Akamine, não mencionado no artigo abaixo, foi Kanki Izumigawa. Como o texto é uma reprodução, não fiz trabalho de complemento nas informações.


Seiichi Akamine

Seiichi Akamine
(1920 – 1995)

Seiichi Akamine (nome artístico em japonês Yoshitaka ou em chinês Shikan) nasceu no bairro de Izumizaki, na cidade de Naha, ilha de Okinawa, Japão, em 14 de maio de 1920.

Era o irmão caçula entre seis e o único que praticou artes marciais dentro de uma família de descendentes de samurais. Iniciou-se com 5 para 6 anos nesse caminho com o avô, passando, em seguida, a treinar com o professor Chomo Hanashiro (1869-1945), da linha Shuri-Te. Seguiu praticando artes marciais durante toda a infância e juventude, tornando-se um jovem muito saudável e forte. Foi treinado também pelos mestres Kentsu Yabu (1866-1937) e Chotoku Kyan (1870-1945), ambos da mesma linha Shuri-Te. Treinou ainda com Chojun Miyagi (1888-1953), criador do Goju-Ryu, e com Sensei Sekō Higa (1898-1966), segundo aluno de Mestre Miyagi.

Sensei Akamine treinou também remo, natação, atletismo, tornando-se um atleta completo.

Iniciou-se ainda na prática de Kobudo com o Professor Shinko Matayoshi (1888- 1947), que lecionava no dojo de Sensei Miyagi, treinando bo, nunchaku, tonfa, kama, sai, nunti, etc.

Sensei Akamine encontrou em Sekō Higa seu mestre de verdade e no Goju-Ryu, o estilo com o qual se identificou melhor. Sua busca, porém, não parou. Seguiu com o mesmo entusiasmo estudando Uechi-Ryu, com o mestre Kanbun Uechi (1877-1948), de quem incorporou para sua própria academia, Ken Shin Kan, os katas Kansha e Kanshu ou Daini Seisan, além daqueles incorporados de Sensei Higa, como Ryufa, Seisan e Kusanku.

Aos 16 anos recebeu a faixa preta, aos 18 o segundo dan e aos 22 o 4º dan de Sensei Higa.

Durante a 2ª Guerra Mundial, serviu nas Filipinas como telegrafista pela Marinha Japonesa.

Foi após esse tempo que abriu, na cidade de Ito, província de Shizuoka, ilha de Honshu, sua associação, Ken Shin Kan.

Passou então a participar das reuniões da Federação Japonesa de Karate, participando, em 1955, de uma demonstração na televisão, juntamente com outros professores, entre os quais se encontrava o jovem Juichi Sagara, com 21 anos, que viria para o Brasil em 1957, vindo a morar durante 6 meses com Sensei Akamine.

Nesse mesmo ano, recebeu o 8º dan da Nippon Butoku Kai, sendo nomeado responsável pelo setor de Karate. Foi quando o presidente dessa honrada entidade, Takema Machino, escreveu no diploma outorgado a Akamine o seguinte: “Pelas duas mãos de Akamine, não haverá inimigo”.

Em 12 de agosto de 1958, a convite da Okinawa Kyokai, desembarcou no Brasil, vindo de navio, para fazer demonstrações no sul do país. Morou por um mês em Itapecerica da Serra, depois por oito meses em Vila Sônia, mudando-se depois para a Rua Oriente, 249, 7ºandar, ap 37, no Brás, onde passou a ministrar treinos, sendo que no mesmo ano, 1959, o fazia no Clube Santos de Vila Prudente. Entre seus primeiros alunos, à época, estão Sérgio Yanagisawa, Jorge Nomura, Sadao Saito, Benedito Santos e Jorge Fukugawa.

Em 1959 foi fundada a Associação Brasileira de Karate, a famosa ABK, à rua Tabatinguera, centro de São Paulo, onde alguns dos maiores nomes do Karate do Brasil treinaram. Lá treinaram, por exemplo, Ryuzo Watanabe e Pedro Hidekazu Oshiro.

Na ABK, sensei Akamine conheceu período fecundo, ensinando karate e kobudo e praticando seu kata preferido, Seienchin, e sua arma preferida, Bo.

Em 1964, por problemas políticos, foi afastado da ABK, o que o marcou profundamente, tendo voltado a ministrar treinos em sua residência no Brás até 1971.

Lá, atendia pacientes para consultas como massagista experiente que era e como numerólogo, sua ocupação permanente, fato que o fez recusar gentilmente o nono e décimo graus por acreditar que não eram bons números. Era ainda mestre em caligrafia e pintor amador.

Arregimentou discípulos pela América do Sul, no Chile e Uruguai, e em Honduras.

Sensei Akamine impressionava pelo capricho que colocava em todos os seus atos e obras. Foi por muitos considerado o mais técnico mestre de Karate que passou pelo Brasil. Após a mágoa com a ABK, dirigiu sua vida para formar os filhos que teve com Shizuko Akamine:

Massahiko Akamine – Médico cirurgião;
Rui Harehiko – Militar;
Carlos Takeo – Professor universitário;
Lúcia Hisako Oshiro – Casada com Sensei Oshiro;
Ikuyo – Engenheira civil;
Martha Massayo – Nutricionista.

Sensei Akamine é lembrado por ter sempre reforçado que na vida é necessário ter mentalidade aberta para estar pronto para aprender sempre mais.

Faleceu em 18 de julho de 1995, em São Paulo.
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Contribuição de Emily Akamine.