Karate: Uma arte incompreendida

Não é incomum ver pessoas, ou mesmo os próprios karatekas, dizendo que o Karate não serve para defesa pessoal, ou que treinar kata não serve pra nada. Já vi, inclusive, praticantes relativamente famosos dizendo que se a pessoa quer aprender defesa pessoal deveria praticar Jiu-Jitsu. Essa opinião mostra uma grande ignorância com relação à nossa arte e sua história. Como o Karate não é eficiente como defesa pessoal se ele foi criado justamente para isso?

Existem muitos praticantes que têm anos de Karate, mas não enxergam a arte completa. Eles apenas conhecem uma parte dessa arte, ensinada em um contexto de educação física e competitivo, mas acham que isso é tudo. Não se deve considerar que o Karate treinado para ganhar pontos ou o treinado com um intuito mais “zen” sejam defesa pessoal. Há várias abordagens possíveis do Karate e todas têm seu valor, mas é preciso treinar com consciência para praticar corretamente e não transmitir erros primários.

O primeiro passo para corrigir esses erros é ouvir o que os próprios mestres do passado diziam sobre o que é Karate. Itosu, Funakoshi, Mabuni, Motobu, Miyagi, Chomo e tantos outros. O verdadeiro Karate tradicional é conhecer esse passado para moldar o futuro. É conhecer o contexto histórico para não cair em achismos.

O segundo passo é estudar o Karate de maneira racional e crítica. Cada kata carrega estratégias e aplicações que vão muito além de socos e chutes, sendo muito eficientes no que se propõem. Explorar o bunkai prático, não aquele teatral ou inverossímil, é indispensável para conhecer a riqueza e profundidade do Karate.

O terceiro passo é trabalhar uma mudança de mentalidade: é preciso entender que, não importa em qual faixa esteja ou quantos anos de Karate tenha, o caminho do aprendizado não acaba. Que o Karate é muito mais amplo que as paredes do nosso dojo. Que os nossos sensei não têm todas as respostas. Que aquilo que te ensinaram não é uma verdade inquestionável. Que o caminho do Karate – e do aprendizado – precisa ser trilhado com humildade, diálogo e constante questionamento para que seja uma jornada que te leve mais longe, não andando em círculos.