A prática viva do kata é obrigatória!

Traduzido do post de Iain Abernethy publicado em 20/07/2018. Por “prática viva”, ele se refere a aplicar o kata em exercícios de kumite não colaborativos.

Um mal-entendido generalizado em torno do kata é que é uma alternativa para a prática ao vivo. A verdade é que o kata está lá para apoiar e informar a prática ao vivo.

Como Gichin Funakoshi disse no Karate-Do Kyohan, “Sparring não existe separado do kata”. Os mestres do passado eram muito claros sobre o elo inquebrável kata/kumite. Como outro exemplo, Choki Motobu escreveu “Kumite [sparring] é uma luta real usando muitos estilos básicos de kata para lidar com o oponente”.

Infelizmente, as coisas são diferentes hoje em dia. A ligação entre o kumite e o kata foi cortada com o kumite sendo baseado não nos métodos registrados dentro do kata ou nas necessidades de autoproteção, mas nas regras dos formatos modernos de competição.

Para perceber completamente o valor do kata, precisamos aprender as lições que eles contêm. Por exemplo, a mentalidade certa, respiração, postura, movimento, táticas, golpes, agarrões, estrangulamentos, chaves, quedas, aprisionamentos, desequilíbrios, etc, etc. Como parte do “processo do karate”, nosso estudo DEVE incluir a prática ao vivo e o teste sob pressão desses métodos contra parceiro(s) resistindo em uma luta.

Kata são as “receitas” do Karate. Eles nos dizem como “cozinhar”. Mas ler e recitar as receitas não faz de alguém um chef! Para isso, precisamos entrar no calor da cozinha e seguir as receitas. Aprender e recitar a forma solo do kata não faz de você um artista marcial. Você precisa pegar as lições do kata e praticá-las em exercícios ao vivo. Quando você faz isso, então você é um artista marcial.

Um chef estagiário precisa de receitas para aprender. Eles não farão comida de boa qualidade se entrarem na cozinha e começarem a cozinhar aleatoriamente, misturando, fritando e fervendo as coisas. Eles precisam de uma estrutura para o estudo. Kata, quando entendido corretamente, fornece essa mesma estrutura para o karateka.

Há quem argumente que, nesta era moderna, há melhores maneiras de registrar informações, como vídeos, livros, etc. e, portanto, o kata foi substituído pela tecnologia. Eu discordo. O Karate é uma atividade física.

Portanto, faz mais sentido registrar as lições em um meio físico. A prática do Kata – quando feita corretamente – fornecerá condicionamento físico e ajudará a melhorar a técnica; bem como fortalecer ainda mais os hábitos combativos adquiridos por meio de outras formas de treinamento. Assistir a um vídeo não fará isso. Nem ler um livro. Há também algumas lições que precisam ser “sentidas”. Kata pode gravar esses “sentimentos internos”. Mídia externa não pode.

Kata – com o entendimento, intenção, visualização e mentalidade corretos – é uma maneira extremamente eficaz de registrar e comunicar informações combativas. É também uma ótima forma de treinamento solo suplementar. O que não faz é remover a necessidade vital da prática viva; nunca deveria! Kata e Kumite não devem ser separados. Eles precisam um do outro. Eles informam um ao outro.

Ontem, passamos algum tempo no dojo observando os métodos de controle de membros encontrados dentro do kata Pinan (Heian). Nós também observamos como o hiki-te (“puxar a mão”) nesses kata pode controlar o inimigo, criar aberturas e monitorar as ações do inimigo. Nós fizemos a forma solo, e fizemos os treinos de bunkai com um parceiro. Nós então colocamos as luvas e deixamos esses métodos serem usados livremente na luta (ver foto). O processo de karate/kata é incompleto sem prática ao vivo. É um requisito não negativista!

Kata é como gelo. Quando “frio”, permanece o mesmo. Você adiciona o calor do combate e se torna fluido e infinitamente adaptável. Assim como a água e o gelo, kata e kumite também são a mesma coisa em estados diferentes. Kenwa Mabuni escreveu: “Se alguém pratica kata de maneira suficiente e regular, ele servirá de base para a realização – quando chegar um momento crucial – a qualquer uma das inúmeras variações”. Esse é o “gelo” do kata se tornando a “água” do kumite.

O kumite baseado nos métodos encapsulados pelo kata precisa fazer parte da prática de todo o karateka.